domingo, 8 de março de 2009

Faryde

Era um domingo quente. Enquanto saboreávamos um sorvete, fixei meu olhar em suas rugas, em sua pele morena e suas características multiétnicas, fusão de povos sírios e indígenas. Aos poucos, vi a imagem de uma adolescente no colégio interno. Vestida com um longo traje de algodão branco, seu olhar era de espanto diante daquele liquido vermelho que escorria entre suas pernas durante o banho coletivo. Aos prantos, enquanto se enxugava, as amigas mais velhas tentavam acalmá-la. Menina órfã, não percebera que havia se transformado numa mulher.
Antes do almoço, deitada numa rede, entre a paisagem da mata atlântica, o calor intenso e uma pilha de jornais da semana, havia registrado a seguinte manchete: “Dia Internacional da Mulher". Observo novamente aquela senhora de noventa e tres anos e sua tranquilidade. Ela, que durante a juventude fez uma escolha que mudou radicalmente a sua vida, também lia o jornal. Ao fugir da fazenda para viver com o namorado, que não era aceito pela família, perdeu seus laços familiares e também foi deserdada. Não havia retorno. Casou-se, teve duas filhas e trabalhou na capital numa época em que isso não era uma atitude comum. Religiosa, mesmo distante das lutas coletivas das mulheres e do movimento feminista, do seu jeito, ela exerceu um papel de vanguarda. Por isso, hoje, simbolicamente, minha homenagem vai para essa mulher sensível, forte e admirável!